quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Dangerous Method

A Dangerous Method: Jung, Freud e Spielrein














Começa a ser rodado o próximo filme de David Croneberg (Senhores do Crime, Gêmeos: Mórbida Semelhança ) entitulado A Dangerous Method. A história se baseia na peça The Talking Cure, de Christopher Hampton, que romanceia fatos e acompanha a relação dos pais da psicanálise, Jung e Freud, com a russa Sabina Spielrein, uma das primeiras mulheres psicanalistas da história, que foi paciente no hospital onde Jung trabalhava, em Zurique.
A sinopse divulgada pela distribuidora australiana Hopscotch Films - que detém os direitos sobre a peça - dá a entender que o filme se desenvolverá como thriller psicológico: "Uma bela mulher, elouquecida por seu passado. Um ambicioso médico com uma missão de vencer. Um estimado mentor com uma cura revolucionária. Que os jogos mentais comecem...".

O filme se passa no início da Primeira Grande Guerra em Zurique e Viena que "são o cenário para uma história sombria de descoberta sexual e intelectual", segundo a sinopse. "Escrito a partir de eventos reais, o filme é um vislumbre na turbulenta relação entre o inexperiente psiquiatra Carl Jung, seu mentor Sigumund Freud e Sabina Spielrein, uma perturbada e bela mulher que se coloca no caminho deles. Na trama entra Otto Gross (Vincent Cassel), um paciente pervertido que está determinado a passar dos limites".
As filmagens da obra começaram em maio deste ano, nas cidades de Viena, Zurique e Munique, e devem durar dez semanas. Embora sem data definida A Dangerous Method tem estreia está prevista para 2011
(Foto: Fassbender - Jung)
O filme contará com as atuações de Michael Fassbender (Bastardos Inglórios), como Jung; Viggo Mortesen (Senhores de Crime, O Senhor dos Anéis), como Freud e Keira Knightley (Piratas do Caribe), como Sabina Spielrein. A atriz alemã Katharina Palm fará o papel de Martha Freud enquanto a canadense Sarah Gadon emprestará sua beleza ao papel de Emma Jung. O ator Christoph Waltz (ganhador do Oscar de ator coadjuvante por Bastardos Inglórios) chegou a ser cotado para o papel de Freud, mas desistiu.

Com certeza uma grande pedida para o próximo ano.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A importância dos sonhos - Ensaio sobre o inconsciente


Aquilo a que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais para além do seu significado evidente e convencional. Implica algo de vago, desconhecido ou oculto para nós.

Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto mais amplo, que nunca é definido de uma única forma ou explicado totalmente, nem podemos ter esperanças de defini-la ou explicar. Quando a mente explora um símbolo, é conduzida em direção a idéias que estão fora do alcance da nossa razão.

Por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que utilizamos freqüentemente termos simbólicos como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender integralmente. Esta é uma das razões por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem através de imagens. Mas este uso consciente que fazemos dos símbolos é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância: o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, em forma de sonhos.

Há ainda certos acontecimentos de que não tomamos consciência. Permanecem, por assim dizer, abaixo do limiar da consciência. Aconteceram, mas foram absorvidos subliminarmente, sem o nosso conhecimento consciente. Só podemos percebê-los em algum momento de intuição ou por um processo de intensa reflexão que nos levem à subseqüente compreensão de que devem ter acontecido. E, apesar de termos ignorado originalmente a sua importância emocional e vital, mais tarde brotam do inconsciente como uma espécie de segundo pensamento.

Este segundo pensamento pode aparecer, por exemplo, sob a forma de um sonho. O aspecto inconsciente de um acontecimento é-nos revelado, geralmente, através de sonhos, onde se manifesta não como um pensamento racional, mas como uma imagem simbólica. Do ponto de vista histórico, foi o estudo dos sonhos que permitiu, inicialmente, aos psicólogos, a investigação do aspecto inconsciente de ocorrências psíquicas conscientes.

Fundamentados nestas observações é que os psicólogos admitem a existência de uma psique inconsciente, apesar de muitos cientistas e filósofos lhe negarem existência. Argumentam ingenuamente que tal pressuposição implica a existência de dois “sujeitos” ou, em linguagem comum, de duas personalidades dentro do mesmo indivíduo. E estão inteiramente certos: é exatamente isto o que ela implica.

Esta divisão de personalidades é, com efeito, uma das maldições do homem moderno. Não é, de forma alguma, um sintoma patológico: é um fato normal, que pode ser observado em qualquer época e em quaisquer lugares. O neurótico cuja mão direita não sabe o que faz a sua mão esquerda não é caso único. Esta situação é um sintoma de inconsciência geral, que é, inegavelmente, herança comum de toda a humanidade.

Aquele que nega a existência do inconsciente está, de fato, a admitir que, hoje em dia, temos um conhecimento total da psique. É uma suposição evidentemente tão falsa quanto à pretensão de que sabemos tudo a respeito do universo físico. A nossa psique faz parte da natureza e o seu enigma é, igualmente, sem limites. Assim, não podemos definir a psique nem a natureza. Podemos, simplesmente, constatar o que acreditamos que elas sejam e descrever, da melhor maneira possível, como funcionam.

No entanto, fora das observações acumuladas em pesquisas médicas, temos argumentos lógicos de bastante peso para rejeitarmos afirmações como “não existe inconsciente”, etc. Aqueles que fazem este tipo de declaração estão a expressar um velho misoneísmo – o medo do que é novo e desconhecido.

Sigmund Freud foi o pioneiro, o primeiro cientista a tentar explorar empiricamente o segundo plano inconsciente da consciência. Trabalhou baseado na hipótese de que os sonhos não são produto do acaso, mas que estão associados a pensamentos e problemas conscientes. Esta hipótese nada apresentava de arbitrário.

O Homem e os seus Símbolos
Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1987

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O que é musicoterapia?



“Musicoterapia é a utilização da música e ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um paciente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.

A musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e/ ou restabelecer funções do indivíduo para que ele / ela possa alcançar uma melhor integração intra e / ou interpessoal e, em conseqüência, uma melhor qualidade de vida, pela prevenção, reabilitação ou tratamento.”

Como funciona?

A Musicoterapia só pode ser realizada por um profissional graduado em Musicoterapia. Ela não é uma terapia alternativa como muitos pensam!! É uma intervenção terapêutica não-verbal, cujo objeto formal de estudo é o comportamento sonoro do indivíduo.
As sessões podem ser individuais ou em grupo, uma ou duas vezes por semana; tudo irá depender do objetivo proposto para o processo terapêutico. Antes de iniciar o tratamento, o paciente irá passar por algumas etapas de diagnóstico como:

Entrevista inicial - onde obtemos informações para o tratamento sobre “a história sonora” do paciente e a “Queixa Principal”
Ficha Musicoterapêutica - onde colhemos dados sobre o mundo sonoro-musical do indivíduo, desde sua vida intra-uterina, suas preferências e recusas sonoras e musicais
Testificação Musical - onde colhemos dados da manifestação sonoro-musical do paciente (o paciente irá tocar ou manipular o instrumento como desejar e qual desejar)
Teste projetivo sonoro musical - onde verificamos a reação do paciente em relação a determinadas músicas / sons, com significados simbólicos pré- estabelecidos. Também avaliamos as capacidades e habilidades corporais, motoras e cognitivas do paciente antes de concluir o diagnóstico inicial.

A musicoterapia também trabalha interagindo com diversos profissionais como: psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, etc.

Quais as doenças que o método pode curar?
A Musicoterapia, sendo uma terapia complementar, pode tratar várias patologias exceto a eplepsia musicogênica.

Veja algumas aplicações da Musicoterapia:
Reabilitação,Psiquiatria,Geriatria,Obesidade,Depressão,Fobia,AnsiedadeStress,Patologias,Dificuldade de aprendizagem,Acompanhamento às mães e pais no pré-natal; método "mãe canguru",Estimulação essencial com bebês em escolas, creches e outras instituições,Atendimento em escolas para crianças com T.D.H (hiper-atividade),Atendimento a deficientes mentais e sensoriais;A.V.C. (derrame),Clínicas e hospitais na área da saúde mental,Assistência a deficientes em instituições de reabilitação,Empresas como prevenção, favorecendo melhor desempenho dos funcionários,Spas - auxiliando a redução de ansiedade.

Também serve para tratamentos psicológicos?

Sim, serve para tratamentos psicológicos. Porém nem sempre o foco é psicológico, vai depender da “queixa principal” do paciente.

Pacientes de qualquer idade podem fazer o tratamento?
Sim, podemos trabalhar com gestantes, bebês, crianças, adolescentes, adultos e 3ª idade.

Quanto tempo leva cada tratamento? É feito com medicamentos, dependendo do caso?
Cada tratamento é único, ou seja, o tempo de tratamento só irá depender do retorno que o paciente der ao musicoterapeuta nas sessões. Quanto à pergunta se o tratamento de musicoterapia é feito com medicamentos, a resposta é Não! O musicoterapeuta não está autorizado nem habilitado para medicar, se o paciente tiver que fazer uso de medicação deverá ser receitado por seu médico.

Cláudia Drezza Murakami

Tão Longe, Tão Perto...

Tua ausência ludibria minha paz
Com um abismo longo-capataz
Engana minha sorte
Perco o ponto-norte atrás das nuvens cinza

Embuste
Escondido, perdido, iludido
Refém da espreita enrustida
Furtiva
Carniceiros na ronda
Entrega quase certa
Saudade viva e fria

Embebido
Flambado de amor e dor
No fogo que queima alma
Que arde no peito esse amor

Tua presença é vida de verdade
Longevidade no oito infinito
O caminho sem linha de chegada
Cruzada do amor, Mundo mais bonito

Tua presença é minha reta
Minha predileta, Minha dieta
A menor distância entre dois pontos
Sou eu e você, beijo e prazer

Embebido
Flambado de amor e dor
No fogo que queima alma
Que arde no peito esse amor

Daniel Bueno/Thiago Nassa

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O Ser da Compreensão: Fenomenologia da situação de psicodiagnóstico.


O mundo humano é essencialmente mundo da coexistência. O homem define-se como ser social e o crescimento individual depende, em todos os aspectos, do encontro com os demais.
A psicoterapia, seja qual for a teoria em que se apóia, consiste precisamente em reaprender a lidar com os demais, mediante a interação com o Outro, no caso de terapia de grupo.

Mesmo sem a presença do outro, o ser no mundo é ser com os outros. Estar só é estar privado do outro, num modo deficiente da coexistência, que constitui uma das estruturas do ser no mundo. O conhecimento do outro, pois, supõe a compreensão da existência como ser da coexistência. A relação ontológica como o outro se torna então uma projeção “dentro do outro” da relação ontológica de si para si. “O outro é um duplo si”.
O outro fornece um modelo para construção da imagem de si. Por ser outro, contudo ele também revela que a imagem de si comporta uma parte igual de alteridade.
A ambigüidade da compreensão do outro, que se origina na compreensão do desconhecido que cada um é para si, revela-se em todos os relatos míticos. Todo mito fundamente-se em todos os relatos míticos. Todo mito fundamente-se na duplicidade do mundo, definido como real e irreal ao mesmo tempo. A abordagem mística consagra, mas não resolve o problema da duplicidade. Até a imagem da transcendência assume a dualidade, quiçá a multiplicidade. “O homem é em sua estrutura homo duprex”.
Já a questão do reflexo propõe a existência de um duplo imaterial, idêntico e, contudo inverso.

O tema da dupla personalidade foi excelentemente ilustrado por Otto Rank, que atribui a origem do conceito de alma ao reconhecimento do reflexo. Já Borges aponta para outra fonte do homem duplo: o sonho. Espelho e sonho trazem a vida seres que não existem, e assim fazem o sonhador e o refletido incorrerem em terrível pecado, pois só Deus pode criar seres. O espelho revela-se em sua função Mágica.
Enquanto o espelho cria a imagem, o sonho inaugura o reino do imaginário. O estado de sonho seria contemporâneo de certo nível de complexidade neurológica, acompanhado até mesmo o desenvolvimento do sistema nervoso central. “Jouvet sugere que o feto já sonha”.
O espelho é a porta para visão do outro mundo. O sonho permite a atuação do individuo dentro daquele mundo, movimenta-se, armado cenários e participando em todos, os níveis do fantástico. “O sonho é o teatro onde o sonhador é ao mesmo tempo o ator, o palco, o ponto, o regente, o autor, o público e o crítico”.
Dentro da perspectiva fenomenológica, o significado do sonho está na própria elaboração do relato, entendido como obra do sonhador, retratando a sua realidade. Nesse sentido, Jung situa-se bem próximo a tal colocação. “o sonho é aquilo que é; inteiramente e unicamente aquilo que é; não é uma fachada, não é algo pré-arranjado, um disfarce qualquer, mas uma construção completamente realizada”.
Jung se apoderou do conceito, dando-lhe novo significado e, sobretudo, nova amplitude, já que postula a existência de um consciente comum a todos os homens, e que pode ser alcançado mediante a análise das imagens arquetípicas, chega, porem, a paradoxal conclusão de que não existe conteúdo de consciência que de outro ponto de vista não seja inconsciente. O sonho não é absurdo e nem confuso, confuso é o entendimento do interprete. A ambigüidade não se deve apenas a uma possível limitação intelectual, ou a uma dificuldade intrínseca de abranger a totalidade do real. Prende-se também a causas existenciais.
O sonho denuncia a continuidade e a espessura da vida de vigília, as figuras que nele aparecem, os acontecimentos que se processam, podem ser então considerados como personificações do sonhador, que se revela a si próprio como ser duplo. Jung aponta, por exemplo, a figura da anima, como expressão necessária do outro, para o individuo masculino: “aquilo que não é eu, quer dizer, aquilo que é masculino, é bem provavelmente
feminino, e como o não eu é experimentado como não correspondente ao eu é experimentado como não correspondente ao eu, e portanto como exterior, a imagem da anima é por conseguinte projetada em regar geral sobre mulheres”.
As etapas do processo de individualização, descrita por Jung sobre a forma do encontro com figuras arquetípicas, revelando-se através dos sonhos.
Pode se dizer que, para Jung, cada vez que for negado o fato de que o individuo é ao mesmo tempo uno e múltiplo, abre-se caminho da neurose.
Neste sentido, a função do sonho é precisamente apontar para a realidade. Jung chega a considerar a Máscara – alcunhada pelo seu nome latino de persona como aspecto intrínseco da personalidade.
A máscara aponta para mais uma faceta da duplicidade. O estudo das mascaras utilizadas pela sociedade, ditas primitivas revela uma dimensão oposta, a de encarnar o irreal para integrá-lo na vida diária do grupo. A interpretação das máscaras não se encontra, portanto muito afastada da interpretação dos sonhos, as máscaras são sonhos fixados. “ponha a máscara e te direi quem é... o existir mascarado afirma a duplicidade, assumindo-a”. O desejo de possuir outro rosto expressa novo registro de ambigüidade. É que entre os seres sobrenaturais que os mascarados evocam estão os espíritos dos mortos.
Poder se ia dizer também que a morte é o outro absoluto, é o outro irremediável presente dentro do ser. A única certeza do vivido, a delimitação do seu horizonte temporal.
A psicologia clinica instaurou o culto dos sonhos através da consagração da psicanálise. Observa-se, no entanto que se grande parte da atuação psicoterápica se dedica a interpretação do conteúdo dos sonhos, pouca ação é tributada a própria situação do sonho, como fonte de reconhecimento da ambigüidade existencial. A capacidade de assumir a própria morte dando-lhe significação poderia, portanto ser considerada como parâmetro de avaliação da capacidade de integração da adaptação a realidade. Neste sentido, a assunção da própria morte seria critério de saúde psíquica.
Minkowski insiste sobre o caráter catastrófico irreparável e da loucura. Em certos aspectos aparenta-se ao fenômeno da morte, mas dela difere por ser um acontecimento não necessário. Para a fenomenologia, não há entre o normal e o louco uma diferença de grau, mais sim diferença de natureza.


A loucura manifesta uma ruptura dentro da existência, para a psicopatologia de orientação fenomenológica não se trata do individuo doente, mais do ser diferente. Daí a importância de analisa-se o dinamismo dos percéptos. A contradição entre as informações permite então elaborar um diagnostico mais fiel a realidade, e mais útil para o cliente do que o mero rotulo formal.
Para receber o outro em sua multiplicidade, é preciso aceitar-se como outro. A angustia recorrente da revelação da ambigüidade existencial, fundamentada que está na especificidade real-irreal humana e apoiada na difícil aceitação da realidade para a morte. Mais uma vez o enfoque existencial, sem chegar a ser uma panacéia pode constituir um remédio eficaz contra o psicologismo, ajudado a valorizar a originalidade do individuo. Alteridade e transformação são ao mesmo tempo superadas e expressas através da obra: a fala, a mais geral de todas as obras do homem, e a obra de arte, através da qual o homem a si mesmo se cria e transcende.

"Monique Augras"